dezembro 04, 2013

[Cyber Cultura] Amazon Prime Air

A popularização dos drones (as pequenas aeronaves pilotadas remotamente) atingiu um novo patamar: nesta semana a Amazon divulgou seus planos de criar o "Amazon Prime Air", um serviço de entrega rápida (em até 30 minutos) usando drones.



Dá para ver que não é a toa que a Amazon é o maior site de e-commerce do mundo... Obviamente este projeto de entrega via drones é, ao mesmo tempo, uma jogada de marketing para mostrar o pioneirismo da empresa e, muito possivelmente, um teste algo que eles estão mesmo desenvolvendo e que pode se tornar realidade em um futuro próximo. Tecnologia para isso existe - afinal, o governo americano usa drones para entregar coisas muito mais pesadas em lugares muito mais distantes... ;)

Segundo o site da Amazon, no momento a empresa está realizando testes da tecnologia e está aguardando a regulamentação da agência americana de aeronáutica (a Federal Aviation Administration - FAA) para a utilização dos drones. Isso, segundo previsão da Amazon, deve ocorrer até 2015. O provável uso de drones permitirá a Amazon inaugurar e, possivelmente, liderar um futuro mercado de entregas ultra rápidas.

Aqui no Brasil ainda não existe uma regulamentação específica para o uso de drones, ou pelo que pesquisei me parece que isso ainda está bem confuso. Mas, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), todo e qualquer tipo de aeronave não tripulada, independente de peso e altitude de voo, não poderia operar sem ter um Certificado de Autorização de Voo Experimental (Cave), que é expedido após avaliação do projeto técnico. Para cada voo também é necessário avisar o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), da Aeronáutica, para que o espaço aéreo seja reservado e os pilotos de aeronaves tripuladas sejam avisados. Além do mais, drones não podem voar em áreas próximas a aeroportos. Além de empresas que usam os drones para prestar serviços (como filmagens, monitoramento, etc), há casos de polícias e outros órgãos públicos e privados que também já estão operando drones aqui no Brasil.

Além da jogada de marketing e agilidade na entrega para clientes próximos, os drones poderiam também ser utilizados para entregas em lugages de difícil acesso ou mesmo sem estradas, como o Andreas Raptopoulos sugeriu em sua palestra no TED, em meados desse ano. Em sua palestra, ele sugere o termo "Matternet" para descrever essa idéia: uma rede de entrega de materiais formada por drones, estações no solo (para entrega e reabastecimento dos drones) e um sistema de roteamento de mercadorias pelos drones (em oposição a Internet, uma rede de informação). Ele fala muito sobre entrega de remédios em países em desenvolvimento (como vários países na África), mas nada impede que essa tecnologia seja usada no comércio em grandes cidades.



A idéia da Amazon é interessante: Para isso funcionar, o cliente deveria morar próximo a algum centro de distribuição (cerca de 10 milhas = 16km) e fornecer suas coordenadas GPS. Ou, na versão "expandida" imaginada por Raptopoulos, poderiam ser construídos algumas estações (para pouso aonde haveria um reabastecimento ou troca dos drones), para poder cobrir uma área maior. Pelo menos para curtas distâncias, seria relativamente simples fazer isso.

Só que não.

Há algumas preocupações de segurança (física e tecnológica) que são relativamente complexas para viabilizar o projeto de entrega de mercadorias via drones, principalmente em áreas populosas:
  • Evitar que o drone atinja pessoas, seja por conta de falha, rota mal traçada, ou voar baixo? Ou mesmo durante o pouso;
  • Não custa lembrar que as hélices dos drones podem cortar ou causar ferimentos graves!!! Por isso, seria melhor adotar modelos aonde as hélices não ficam expostas;
  • Risco de falha no drone, que pode causar sua queda em pleno vôo. E, nessa hora, pode atingir alguém ou cair sobre alguma coisa, causando um dano maior. Imagine um drone caindo no meio de uma avenida movimentada...
  • O drone precisará desviar de coisas que podem atrapalhar o seu vôo, como objetos, árvores, edificações, antenas, pássaros ou até mesmo outros drones;
  • Há o risco do cliente malicioso, que vai fazer uma encomenda para tentar roubar o drone na hora em que ele  pousar;
  • Podem haver pessoas tentando capturar os drones para roubar o drone em si ou a mercadoria, e para isso pode tentar atingir o drone (um pouco difícil e arriscado), ou usar algum tipo de rede para capturá-lo. Além de lucrativo, pode ser algo divertido...
  • Há também o risco de alguém tomar o controle ou confundir os drones usando sinais de GPS adulterados ou uma ferramenta chamada SkyJack (um drone criado especialmente para interceptar e roubar o sinal de controle de outros drones - atualmente criado para os drones Parrot, mas que eventualmente pode ser adaptado para outros modelos);
  • Privacidade: Uma possibilidade para tornar o vôo drone mais seguro é que ele seja controlado por uma câmera. Mas aí, além da necessidade de ter uma pessoa pilotando cada drone (o que vai encarecer o projeto e dificultar o crescimento em escala, pois não há tantos pilotos de drone sobrando por aí), pode surgir uma discussão sobre privacidade, como bem lembrou a Wired. Quem garante que o drone não vai ver ou filmar coisas indevidas? Ou o operador do drone pode resolver dar uma paradinha no meio do caminho para dar uma "espiadinha" a lá BBB?

Mas a Wired fez outra crítica bem interessante sobre a viabilidade econômica do Amazon Prime Air: isso exigiria mudar a estratégia de estoque e distribuição da empresa, com um custo exorbitante e perdendo o ganho em escala.

O modelo de entrega no mesmo dia, pela necessidade de velocidade e agilidade, foge do modelo de negócios utilizado pelas grandes lojas, como a Amazon, que centralizam seus estoques em grandes centros de distribuição, que normalmente são poucos, localizados em pontos estratégicos e dependentes de terceiros que fornecem a estrutura de distribuição capilar (Como Fedex, Sedex, etc). No modelo desses grandes "hubs", a necessidade de se conectar com um carregador no mesmo dia demanda muito tempo e, na prática, inviabiliza uma entrega no mesmo dia. Além do mais, no modelo atual de distribuiçõa, um mesmo transportador pode usar um caminhão que entrega vários pedidos - em média, um caminhão medio da UPS pode entregar 120 pacotes. Para viabilizar a entrega via drones, A Amazon deveria construir centros de distribuição pequenos ou médios em áreas urbanas densas para tornar a entrega no mesmo dia viável, o que implicaria em um grande investimento, além de aumentar o custo total da empresa com estoque (cada centro local desses tem que ter um estoque de mercadorias).

Aqui no Brasil, talvez esse modelo funcionasse um pouco com a Americanas.com, pois além de ter seus centros de distribuição, ela também conta com centenas de lojas de bairro e lojas em shopping (várias delas foram herdadas com a compra da Blockbuster em 2007. A Americanas, ao contrário da Amazon, teria a capilaridade necessária para fazer entrega de alguns ítems (os mais comuns em suas lojas) através de drones locais. Ou através de entregadores usando bicicleta, né? #ficaadica

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