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março 18, 2013

[Cidadania] Mulheres e Greys

Nesta noite de domingo eu resolvi assistir algumas palestras do TED, enquanto provavelmente alguns milhões de pessoas assistiam o Fantástico e o paredão do Big Brother Brasil. Duas palestras, em especial, estavam em destaque e me chamaram a atenção: uma emocionante palestra da Leslie Morgan Steiner sobre violência doméstica e a palestra da iO Tillett Wright sobre a diversidade sexual. Ambas tratam, ao seu modo, a questão do preconceito e da repressão as minorias. Afinal, hoje em dia é tão fácil ser carimbado como minoria - a menos que você seja, ao mesmo tempo homem, heterosexual, cristão, loiro, malhado...

Em sua palestra chamada "Crazy Love - Por que as vítimas de violência doméstica não vão embora " a Leslie Morgan Steiner compartilhou com o público a sua chocante e emocionante experiência de ser casada por cerca de dois anos e meio com uma pessoa que batia nela e apontava uma arma em sua cabeça frequentemente, uma ou duas vezes por semana. Sua principal intenção foi discutir o porque as vítimas, em sua maioria mulheres, caem nesta situação e tem dificuldade de sair deste tipo de relacionamento. O pior de tudo é que a violência doméstica atinge uma em cada 3 pessoas, e acontece aonde menos gostaríamos: no ambiente familiar.

Veja a transcrição de alguns momentos interessantes e emocionantes da palestra:
  • "O homem que eu amava mais do que qualquer pessoa no mundo apontou uma arma na minha cabeça e ameaçou me matar tantas vezes que eu nem me lembro quantas."
  • "a violência doméstica acontece com qualquer um, independentemente de raça, religião, classe social ou educação. Está em todos os lugares."
  • "o primeiro estágio de qualquer relação de violência doméstica é seduzir e encantar a vítima. (...) o segundo passo é isolar a vítima."
  • "Eu errei em pensar que eu era a única e sozinha nessa situação. Uma em cada três mulheres americanas tiveram experiências de violência ou perseguição em algum momento da vida, as estatísticas mostram que 15 milhões de crianças são agredidas todo ano, 15 milhões. Na verdade, eu estava em grande companhia."
  • "Por que eu fiquei? (...) nunca pensei em mim como uma mulher maltratada. Ao contrário, eu era uma mulher muito forte apaixonada por um homem profundamente perturbado e eu era a única pessoa na Terra que poderia ajudar Connor a enfrentar seus problemas."
  • "por que ela simplesmente não vai embora? (...) é extremamente perigoso deixar um agressor. O último passo padrão da violência doméstica é matar a vítima. Mais de 70 por centro dos assassinatos por violência doméstica acontecem depois que as vítimas terminam a relação (...). Outras consequências são: perseguição por um longo período, mesmo depois do agressor casar novamente; recusa em fornecer recursos financeiros; e manipulação do sistema judiciário da família para aterrorizar a vítima e seus filhos, que são forçados regularmente pelos juízes de família a passar um tempo sem supervisão com o homem que batia na mãe deles."



A palestra "Cinquenta tons de gay" da iO Tillett Wright, por sua vez, abordou a diversidade humana, e quanto difícil é perigoso criar uma lei ou um comportamento que divida as pessoas em determinados grupos, tipos ou características. Baseado em sua vida pessoal e em um projeto que ela criou para fotografar rostos de pessoas que se encaixam em algum lugar do espectro LBGTQ, ela passou a questionar o quanto as pessoas se consideram gay ou hétero, em uma escala de 1 a 100, e descobriu que a maioria das pessoas se consideram na região mais intermediária, não 100% gay nem hétero. Ou seja, a discriminação traz um grande problema, pois em algum momento a pessoa que está discriminando traça uma linha que isola os "cidadãos de segunda categoria".

Ela disse várias coisas bem interessantes e que resumem muito bem a sua mensagem:
  • "Os seres humanos se empurram para caixas no momento em que se vêem."
  • "as categorias, eu descobri, são muito limitantes. As caixas são muito estreitas. E isso pode se tornar realmente perigoso."
  • "(...) eu era um minoria, e dentro do meu próprio país, baseado em uma face da minha personalidade. Eu era legalmente e sem dúvida uma cidadã de segunda classe."
  • " Como pode alguém votar para destitiuir os direitos da grande variedade de pessoas que eu conhecia baseado em um elemento de suas personalidades?"
  • "muitas pessoas optaram por algo entre 70 e 95% ou entre as marcas de 3 e 20%. Claro, havia muitas pessoas que escolheram 100% uma coisa ou outra mas eu descobri que uma porção muito maior das pessoas se identificavam como algo que parecia mais sutil. Eu descobri que a maioria das pessoas caía num espectro que passei a chamar "Grey" (cinza - trocadilho com a palavra gay)."
  • "seres humanos não são unidimensionais. (...) mesmo sabendo que a maior parte das pessoas se identifica de alguma forma mais perto de um binário ou outro há este vasto espectro de pessoas que existem no meio."
  • "Onde exatamente alguém se torna um cidadão de segunda classe?"
  • "O que vemos são seres humanos em sua total multiplicidade. E vê-los torna mais difícil lhes negar humanidade. No mínimo dos mínimos, eu espero que torne mais difícil negar direitos humanos."



Eu decidi compartilhar estas palestras pois acredito que a mensagem que elas trazem é, acima de tudo, de que devemos respeitar e tratar bem todas as pessoas. A personalidade do ser humano é muito complexa e diversificada, e qualquer tentativa de categorizar e rotular é injusta e perigosa, traz o desrespeito, o preconceito e, pior ainda, podem motivar a violência.

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