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outubro 08, 2014

[Cidadania] Crise da água em São Paulo

Eu não sei se estou sendo alarmista ou paranóico, mas parte de mim não consegue tirar da cabeça a notícia de que poderemos ficar sem água na grande SP daqui a cerca de 50 dias (pelo menos esta é a previsão para o fim da atual capacidade de captação do sistema Cantereira). A cada dia recebemos notícias sobre os níveis alarmantes dos nossos reservatórios de água.


A impressão que eu tenho é que o governo e parte da população estão ignorando a crise do abastecimento de água, certos de que a "providência divina" irá trazer chuvas antes que tenhamos sérios problemas no abastecimento. A população também é culpada, porque ainda é comum tomar conhecimento de relatos de desperdício de água.

Enquanto os reservatórios que abastecem a Grande São Paulo estão em níveis críticos, cinco dos principais rios que cortam ou banham o Estado de São Paulo estão com menos de 30% da água que deveriam ter nesta época do ano.

A que ponto podemos chegar? Falta de água para o saneamento básico e higiene pessoal (tomar banho, lavar roupa e louça, etc) e sermos obrigados a comprar água mineral para beber e cozinhar - supondo que os supermercados vão conseguir atender a demanda e não vão inflacionar os preços. Além disso, corremos o risco da seca impactar na geração de energia elétrica. Isso tudo pode levar a outras medidas desesperadas como a suspensão de aulas nas escolas, protestos, saques, etc.

Veja o caso da cidade de Itu, em São Paulo, que tem em torno de 165 mil habitantes: a população está enfrentando racionamento há sete meses e, recentemente, foram realizados diversos protestos violentos na cidade. Para lidar com a falta de chuva, a prefeitura vem tomando medidas extremas: o abastecimento é limitado a apenas 10 horas a cada dois dias, e o município resolveu vetar novos empreendimentos imobiliários para impedir o aumento do consumo.

Diversas outras cidades paulistas já sofrem com o racionamento, afetando mais de 2 milhões de pessoas. Em Salto, o rio Tietê tem seu menor nível em 70 anos, com profundidade cerca de nove metros menor que a registrada em épocas de cheia. Em Valinhos, o racionamento começou em Fevereiro deste ano e deve durar pelo menos mais 12 meses. Em Cajuru (a 298 km de São Paulo) a prefeitura suspendeu as aulas na rede municipal e proibiu a utilização de banheiros nos prédios públicos. Em Bebedouro, o corte de abastecimento acontece todos os dias das 10h às 17h.

Pouco se fala também dos impactos no meio-ambiente e na economia, tais como a falta de água para a irrigação das propriedades rurais, enquanto diversos rios deixaram de ser navegáveis, prejudicando o escoamento da produção agrícola.

E as causas deste problema são muitas: décadas de mau comportamento em relação ao uso da água e do solo, ocupação urbana desenfreada, desrespeito as nascentes e mananciais que abastecem os nossos rios, aumento da poluição dos rios e falta de tratamento dos esgotos. Some a isso o desperdício no consumo doméstico, na distribuição (38,8% da água tratada no Brasil é desperdiçada antes de chegar à torneira dos consumidores) e até mesmo na agricultura (a irrigação é responsável por 70% do consumo de água no Brasil).

De qualquer forma, precisamos pensar em algum tipo de “plano B” caso a crise no abastecimento se agrave mais ainda e chegue a um ponto crítico.

Um cenário de falta de água em São Paulo beira o apocalipse: milhões de pessoas sem água para saneamento básico, com racionamento rigoroso, e vivendo as custas de água potável comprada em supermercados. Some a isso protestos nas ruas e eventuais saques a supermercados.

Uma alternativa para diminuir um pouco o impacto deste problema é as empresas avaliarem suas políticas de home office para evitar o deslocamento de seus funcionários, que ficariam em casa e menos expostos a protestos (além do mais, ficando em casa as pessoas podem tomar menos banho ;) Eventualmente, executivos e alguns funcionários podem se mudar provisoriamente para outras cidades ou estados que não estejam enfrentando problema no abastecimento (olha aí novamente a importância de permitir e flexibilizar o trabalho remoto).

3 comentários:

  1. Parabéns pelo post Anchises.

    Sempre comento com amigos que o Brasil tem que criar o seu modelo de desenvolvimento. Modelo norte-americano/europeu é UM dos modelos possíveis.

    Temos que fazer diferente. Não acho que um modelo que não leva em conta o risco ambiental seja inteligente.

    Mas tem pessoas que só querem faturar, não pensando que se a economia não se moldar com o aspecto natureza, não haverá economia...

    Enfim, é batido, mas parece que as pessoas não pensam nisso.

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  2. Leandro, eu concordo que uma boa parte da culpa é do governo, que não investiu na criação de reservatórios, que pouco ou nada fez para a proteção dos mananciais, que não investiu na modernização da rede de distribuição de água, que também não investiu na captação e tratamento de esgoto.
    A populaçào de São Paulo, por exemplo, está sem água enquanto o rio que cruza a cidade é e sempre fou um grande esgoto a céu aberto. E a economia de água nunca foi incentivada - nem mesmo o reaproveitamento doméstico da água.
    Mas estes problemas não acontecem apenas em São Paulo. Nossos políticos, em geral, tem uma visão curta e raramente fazem obras e ações a longo prazo.

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  3. Anchises,

    Postei no meu FB um grafiquinho com o nível do Cantareira sem as porcentagens. Se quiser pegar fique à vontade. Assim que a ANA publicar oficialmente qual vai ser o tamanho da segunda cota do volume morto atualizo (deve ser esses dias).
    Buscar água mais longe é uma saída, mas fica cada vez mais caro e vai tirar água de alguém que já está usando.
    As pessoas acham que vivem isoladas, que uma notícia do tipo: "Uma área equivalente a sei lá quantas centenas de campos de futebol foi desmatada mês passado no Pará" não faz ninguém se mexer em São Paulo.
    Deveria. Sem as árvores não há fluxo de umidade, o regime de chuvas de todo o país vai encontrar um novo ponto de equilíbrio. Talvez neste novo ponto de equilíbrio a cidade de São Paulo como a conhecemos seja inviável.
    Me parece um bom motivo para os paulistas se mexerem.
    Ou pior ainda, talvez uma cidade deste tamanho na beira da serra (região de nascentes) seja inviável de qualquer forma e só agora nos demos conta, porque planejamento urbano de verdade nunca saiu do papel por aqui.

    Abraço

    Billy

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