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agosto 24, 2016

[Segurança] ‪OpOlympicHacking‬ e o ocaso do hacktivismo

Os Jogos Olímpicos são, sem dúvida, o maior evento esportivo do planeta e, assim, uma grande oportunidade para ativistas aproveitarem a atenção midiática e realizarem protestos, promovendo suas causas específicas.


Mas como seria o desdobramento disso em um país com pouca tradição de protestos populares, aonde a população em geral é facilmente manipulada pela mídia e se distrai facilmente por qualquer tipo de festa, principalmente o Carnaval, feriados, jogos de futebol, etc? Afinal, vivemos no país do Carnaval e da cerveja. A Copa do Mundo de 2014 vivenciou alguns protestos antes dos jogos, mas durante os jogos quase nada aconteceu. E como foram nas Olimpíadas do Rio 2016?


Ao contrário das expectativas (minhas e de muitos colegas de profissão), os ciber protestos durante as Olimpíadas foram poucos, esparsos, sem conseguir aglutinar muitos grupos hacktivistas em torno de alguma causa. Tanto do ponto de vista local (Brasil) quanto global, não houve uma ação coordenada de protestos nem uma coalisão de células do Anonymous que estivesse engajada ativamente em torno da chamada "OpOlympicHacking".

A hashtag #OpOlympicHacking começou a ser divulgada antes mesmo do início dos jogos. Por exemplo, em Março deste ano o Anonymous Brasil (AnonBRNews) publicou alguns posts com referência a operação, na época associando essa hashtag com a OpNimr, uma ação promovida por células do Anonymous em todo o mundo em defesa do jovem saudita Ali Mohammed al-Nimr, preso e condenado a morte por participar dos protestos contra o governo de seu país durante a Primavera Árabe.



Mesmo antes da abertura dos jogos Olímpicos, várias páginas de "evento" foram criados no Facebook como forma de protesto contra os jogos. Um dos temas mais comuns foi convidar a população a apagar a tocha Olímpica, na medida em que ela passava pelas cidades.



Durante as duas semanas que durou as Olimpíadas, alguns acontecimentos poderiam ter aquecido os ânimos e potencializado os protestos, desde a votação do parecer do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff na primeira semana dos jogos, até mesmo a notícia de que um ataque de drones matou um dos líderes do ISIS.

Mas durante o decorrer dos Jogos, as ações de ciber protesto foram poucas e esparsas. Nós tivemos o pico de ataques, mensagens e protestos online no dia da abertura dos jogos, quando várias mensagens foram publicadas em redes sociais, o canal IRC para organização da opaerção borbulhava de gente (cerca de 150 pessoas), um video de protesto foi produzido e uma lista de alvos foi divulgada, indicando os sites que deveriam sofrer ataques.


Mas, passada a cerimônia de abertura, os ataques ou mensagens de protesto relacionado as Olimpíadas aconteceram esporadicamente. Durante as duas semanas que duraram os jogos foram realizados poucos ataques, incluindo algumas derrubadas de sites com ataques de DDoS e vazamento de dados (incluindo o tradicional "vazamento de dados públicos), direcionados principalmente ao governo do Rio de Janeiro, a organização dos jogos e algumas empreteiras.



O grupo AnonBRNews foi a célula do Anonymous que participou mais ativamente das operações de protesto durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Vejamos uma linha do tempo com os principais acontecimentos:
  • 05/08: Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos


  • 05/08: AnonBRNews divulga uma lista de alvos no Pastebin, incluindo diversas construtoras acusadas de estarem envolvidas em escândalos de corrupção
  • 05/08: Através do Twitter e do canal IRC da operação, o Anonymous divulga uma ferramenta para realizar os ataques DDoS, batizada de "opolympddos". Apesar da ferramenta conter botões para atacar 5 sites, os participantes do canal IRC eram orientados a atacar apenas o site www.brasil2016.gov.br;
  • 05/08: AnonBRNews realiza um ataque de DDoS com sucesso contra o site www.Brasil2016.gov.br;
  • 05/08: Durante a cerimônia de abertura, os participantes do canal IRC da OpOlympicHacking tentam, sem sucesso, realizar um ataque DDoS contra o site da atriz Regina Casé;
  • 05/08: AnonBRNews anuncia um ataque de DDoS com sucesso contra o site esporte.gov.br, aparentemente realizado pelo grupo MCA DDOS Team;
  • 05/08: O AnonBRNews anuncia o vazamento de dados pessoais de algumas personalidades políticas (do prefeito e do governador do Rio de Janeiro, ministro do esportes e do presidente do COB e da CBF, além de dados de algumas empresas);
  • 05/08: O grupo Anonymous Brasil (@AnonymousBr4sil) divulga uma mensagem de protesto em sua página no Facebook;
  • 05/08: Anonymous (AnonBRNews) publica o vídeo "Anonymous #OpOlympicHacking - Que os Jogos Comecem!" (versão em Inglês):
  • 06/08: Através do IRC e do twitter, o Anonymous divulga uma nova versão da ferramenta “olympicddos.rar”, sempre orientando os participantes a atacarem o site www.brasil2016.gov.br;
  • 06/08: O anonBRNews anuncia o vazamento de banco de dados de 4 confederações esportivas: a de boxe, de handebol, de triatlhon e pentatlo;
  • 06/08: Anon X e Plano Anonymous Brasil publicam o vídeo "Exclusion of the Olympic Games 2016":
  • 08/08: O Anonymous divulga uma nova versão da ferramenta “olympicddos.rar”, com algumas correções de bugs;
  • 08/08: O grupo AnonymousCenter publica um post no Twitter divulgando uma ferramenta online para ataque DDoS: "#Anonymous #OpOlympicHacking #OpNimr #DDos tool to help in the attack ! http://indos00.blogspot.jp Fire Legion."
  • 08/08: O perfil do Twitter AnonOpsBR ‏(@anonopsbrazil) anuncia um ataque DDoS com sucesso contra o site rj.gov.br;
  • 08/08: AnonOpsBR anuncia que "6 Bancos de Dados hackeados pela #OpOlympicHacking e todos os sites estão offline", disponibilizando no Pastebin informações supostamente dos sites ouvidoriadapolicia.rj.gov.br, gestaorecursos.cpb.org.br, portalgeo.rio.rj.gov.br, www.isp.rj.gov.br, ecomlurbnet.rio.rj.gov.br e internetcomunitaria.rj.gov.br;
  • 11/08: O perfil Anonymous Official publica o vídeo "Exclusion of the Olympic Games 2016" (com conteúdo similar ao vídeo de 06/08):
  • 12/8: Alguns perfis do Anonymous em outros países retuitam o vídeo em que um protesto de estudante foi reprimido com balas de borracha. Ex: @YourAnonGlobal: "Police use tear gas and rubber bullets against protesting Brazilian students http://on.rt.com/7mfu";
  • 12/08: O grupo Greyhat Brotherhood publicou vários tweets dizendo que invadiu a empresa Carioca Engenharia, que está supostamente associada a corrupção nas obras das Olimpíadas. Eles alegam ter obtido dados de 19 mil pessoas associadas a empresa;
  • 12/8: O grupo Asor Hack Team (@AsorHackTeamvaza e-mails da Construtora Cyrela;

  • 15/08: O grupo AnonBRNews publica uma mensagem de protesto no Facebook relacionada a construçao do campo de golfe para as Olimpíadas, pela construtura Cyrela;
  • 15/08: O perfil no twitter @YourAnonGlobal publica uma mensagem de protesto: "Since 2009 over 77,000 people have been forced out of their homes for infrastructure related to the 2014 World Cup and 2016 Olympic Games";
  • 15/08: O perfil @anonopsbrazil anuncia que "Corte Arbitral do Esporte (CAS) foi hackeada e teve o banco de dados expostos";
  • 16/08: O perfil @anonopsbrazil anuncia que "Olympic Broadcasting Services (OBS) foi hackeado pela #OpOlympicHacking";
  • 19/08: O @YourAnonGlobal publica a mensagem "Iranian #Hacker Defaces IWF Website Following Controversial Rio #Olympics Decision http://buff.ly/2b4gzVE  #Rio2016";
  • 23/08: O grupo AnonBRNews publicou, em sua página no Facebook, um "Resumo da Operação" OpOlympicHacking.


  • 13/09: Hackers russos divulgam dados médicos confidenciais sobre os resultados de exames anti-doping de 4 atletas americanos, em represália as sanções impostas aos atletas russos após um escândalo de doping.

Durante os jogos, as diversas células do Anonymous ao redor do mundo estiveram ocupadas principalmente com seus problemas locais, e raramente foi dada alguma atenção para as Olimpíadas - exceto para retuitar alguma notícia pontual, algum aviso de ataque bem sucedido ou alguma charge relacionada as Olimpíadas. As mensagens de protesto destes grupos foram poucas, facilmente contadas nos dedos das mãos.



Para trazer mais distração, algumas operações de protesto estavam em andamento em outros países, em paralelo com as Olimpíadas. Por exemplo, enquanto os Anonymous da Venezuela estavam discutindo a abertura de fronteira com a Colômbia, células americanas e inglesas estavam dando atenção ao problema de tensão racial nos dois paises, e diversas células globais do grupo estavam divulgando a "OpWhales", direcionada principalmente contra a indústria baleeira do Japão e Islândia. Além de tirar o foco dos hacktivistas internacionais para as ações de protestos sobre as Olimpíadas, essas operações perderam a oportunidade de "pegar carona" nos protestos relacionados aos jogos. Se tivessem feito isso, poderiam dar mais visibilidade para a sua causa específica e, de bônus, teriam ajudado a promover os protestos associados as Olimpíadas.


Após 2 semanas de Jogos Olímpicos, o grupo Anonymous e seus apoiadores não conseguiram aproveitar a oportunidade para realizar protestos online a altura dos problemas que eles mesmos destacaram em seus posts de protesto. Houve poucas ações, com pouca adesão e pouco impacto. Consequentemente, a divulgação dos resultados da OpOlympicHacking foi muito limitada.

Para saber mais:
OBS: Post atualizado em 05/10.

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