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outubro 03, 2016

[Cidadania] A urna impenetrável

Eu vi vários colegas comentando a imagem abaixo, então resolvi procurar no perfil do TSE no Facebook para ter certeza que a imagem era verdadeira:


Esta argumentção de que "a urna é segura porque não está conectada a Internet" é tão tosca que é difícil de acreditar que pudesse ser verdade! Não basta isolar um sistema da Internet para que ele "automagicamente"  fique seguro.

Este tipo de argumento ignora a possibilidade de tentativas de ataques e fraudes que possam ser feitos por qualquer pessoa com acesso físico as urnas, que poderiam ser, hipoteticamente, funcionários mal intencionados (do TSE ou terceirizados) atuando na produção, configuração, distribuição ou até mesmo na proteção das urnas, incluindo mesários (mais de 2 milhões, segundo o próprio TSE) e o pessoal que faz o transporte das mais de 550 mil urnas. Essa argumentação também ignora, intencionalmente ou não, a possibilidade de fraude na transmissão dos resultados, um processo que certamente é feito por redes de telecomunicações.

Em sua defesa, o TSE também disponibilizou no Facebook um vídeo em que o Secretário de Tecnologia de Informação do TSE, Giuseppe Dutra, rebate as críticas sobre a segurança e auditoria do processo eletrônico de votação e apuração.


Na minha opinião, o grande problema do processo eleitoral brasileiro é que ele é apoiado na hipótese inquestionável e imutável de que o TSE é confiável. Ou seja, todo o processo eleitoral é controlado a mãos de ferro pelo TSE e nós, cidadãos, conveniente acreditamos que o TSE é confiável. Tudo o que o TSE decide, legisla e faz deve ser assumido, goela abaixo, como verdadeiro e, principalmente, inquestionável. Confiamos no processo de votação porque confiamos cegamente no TSE. Acreditamos que não existe a mínima possibilidade de fraude dentro do TSE, acreditamos que nenhum funcionário ou juiz do TSE pode ser corrompido.

Do ponto de vista de segurança da informação, essa confiança cega no TSE reflete no fato de que a mesma entidade (TSE) que realiza as eleições é a mesma entidade que audita o processo eleitoral - quando, ao contrário, a prática real do mercado é a de que "quem realiza uma atividade não é a mesma pessoa que audita", justamente para evitar conflitos de interesses no processo de auditoria.

As eleições presidenciais de 2014 foram bem interessantes, do ponto de vista da discussão sobre a segurança da nossa urna eletrônca. Sejamos francos: devido a diferença mínima nas pesquisas de intenção de votos entre os dois principais candidatos presidenciais (Dilma e Aécio), pela primeira vez nós tivemos uma eleiçõa de grande importância aonde o resultado final era imprevisível, ou seja, qualquer um dos 2 candidatos poderia ser o vencedor. E, para apimentar mais ainda a discussão, havia uma grande expectativa de que o candidato da oposição iria conseguir a vitória - ao contrário do que foi apresentado no resultado final. O PSDB, então, questionou o resultado e pediu uma recontagem dos votos - algo que é de pleno direito para qualquer partido ou candidato em qualquer eleição de qualquer país democrático.

Mas, provavelmente pela primeira vez, descobrimso que a votação brasileira não é auditável e não permite a recontagem dos votos. "Recontar os votos" na nossa urna eletrônica é tão ineficaz como você fechar e abrir um documento do Word para ter certeza de que o conteúdo do arquivo ainda está lá. Se, hipoteticamente, tivesse ocorrido alguma fraude eleitoral, ela teria acontecido na própria urna, durante a votação, ou durante a transmissão dos resultados dos votos - e como auditar isso no nosso sistema?

Na época, o PSDB então pediu uma auditoria do sistema de votação e, ao contrário do que foi noticiado pelo TSE e replicado irresponsavelmente pela mídia, o resultado da auditoria foi totalmente inconclusivo, pois o nosso sistema eleitoral é inauditável. Veja você mesmo:
  • O que noticiou o TSE: "o documento confirma que não foi verificada nenhuma evidência de que houve adulteração de programas, de votos ou mesmo qualquer indício de violação ao sigilo do voto no pleito do ano passado"
  • O que concluiu a auditoria do PSDB: "os procedimentos de perícia previstos em leis e regulamentos da Justiça Eleitoral são “insuficientes para a garantia da transparência do processo de eleições”. (...) Por conta disso, não é possível concluir se houve ou não fraude nas eleições. (...) porque o sistema implantado pelo TSE é inaferível, inauditável”"
Olha que interessante, na imagem abaixo, a diferença entre o texto do título da notícia e o texto na URL, indicando que o título foi reeditado após a publicação:



Qual deve ser a prioridade em uma eleição? Garantir a agilidade na apuração dos votos ou garantir a confiança de que a apuração foi feita de forma correta? Precisamos garantir que o nosso voto na urna foi representado no resultado final? Podemos esperar 2 ou 3 dias a mais pera decidir quem vai nos governar nos próximos 4 anos?

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