O Brasil é um país preconceituoso. Se você não é homem, branco, católico, nascido em bairro rico da região Sul ou Sudeste, nem heterossexual, você já foi vítima de preconceito. Ou pior, você pode ser vítima de preconceito o tempo todo, a qualquer momento. Na verdade, este não é um problema exclusivo brasileiro: como bem disse a revista
Época há um tempinho atrás, "A intolerância é um fenômeno antigo e disseminado em diversas culturas. Contra grupos raciais, étnicos ou religiosos".
Para piorar, a Internet está aqui, para potencializar o preconceito e, inclusive, potencializar a reação ao preconceito, o que pode tomar uma dimensão igualmente indesejável. Já tivemos várias polêmicas na Internet em função de pessoas que blogaram ou
twitaram contra nordestinos, por exemplo, mostrando um preconceito regional
bem típico no Brasil - que, como qualquer forma de preconceito, é infundada e repugnante. E o "cyber bulling" virou a palavra da moda - ainda bem, pois ajuda a conscientizar os pais e as escolas sobre este problema.
E, nesta semana, o preconceito contra a opção sexual está especialmente presente. Por exemplo, no dia 22 de julho, a expressão "Orgulho Hétero" virou trend topics global no Twitter. Ou seja, os brasileiros geraram tanta discussão online sobre o tema, devido a
notícia de que um vereador paulista lançou um projeto para instituir o Dia do Orgulho Hétero na cidade de São Paulo, que este assunto gerou uma quantidade significativa de mensagens no Twitter, a ponto de ser considerado um dos ítens mais discutidos no Twitter em todo o mundo. Mas, o mais interessante de tudo, é que a maioria dos tweets que eu vi naquele dia eram de pessoas reclamando sobre o assunto, indignadas com as mensagens sobre o assunto. Ou seja, a própria reclamação dos internautas serviu para promover ainda mais o tema.
Não vou discutir a questão do tal "Dia do Orgulho Hétero". Isto simplesmente me faz lembrar a KKK e o Nazismo: uma maioria preconceituosa, violenta, julgando-se no direito de defender o seu "direito" de exercer o preconceito e continuar a agredir as minorias.
Em uma
pesquisa recente, cerca de 1/3 dos jovens estudantes do Distrito Federal declararam não desejar ter um colega homossexual. Como se isso não bastasse,
segundo o Grupo Gay da Bahia, em 2010 ocorreram 252 assassinatos com causa homofóbica no Brasil.
Após alguns adolescentes homossexuais se suicidarem em 2010 nos Estados Unidos em função do preconceito, os americanos lançaram uma campanha muito legal, chamada
"It Gets Better" (que eu traduzi livremente como "Vai Melhorar"). A campanha foi direcionada a jovens e adolescentes da comunidade GLBT que sofrem preconceito, bullying e agressão por conta de sua opção sexual. A parte mais interessante da campanha são os diversos
vídeos publicados por celebridades, empresas e pessoas comuns em apoio a campanha e aos adolescentes. Há vídeos muito interessantes do presidente americano
Barack Obama e
outros membros da Casa Branca, como a secretária de estado
Hillary Clinton, e vídeos de
alguns atores do seriado Glee e
House, além de funcionários de diversas empresas americanas. Eu gostaria de colocar aqui todos os vídeos, mas para este post não ficar muito poluído, segue abaixo alguns deles, que merecem ser vistos.
Como profissional na área de TI, eu achei realmente muito legal ver vários vídeos de funcionários de empresas importantes na minha área, como a
Apple,
Microsoft,
Pixar,
Google,
CISCO, e do
Facebook.
Atualização em 27 de Junho: Em mais um exemplo de como um ato de discriminação e intolerância pode gerar grande polêmica online, hoje o nome da ex-atriz e atual deputada estadual Myrian Rios virou trend topic global no Twitter, em função da divulgação de um vídeo em que ela se manifesta em plenário contra a PEC 23/2007 que visava penalizar a discriminalização em função da homossexualidade. No trecho mais polêmico do discurso, ela relaciona homossexualidade com a prática de pedofilia, e cita como exemplo a situação hipotética dela contratar uma babá lésbica ou um motorista transexual que iriam molestar seus filhos. Infelizmente ela desconhece que a prática da pedofilia é independente da orientação sexual do agressor e, muitas vezes, o agressor faz parte da família. Segundo várias
informações divulgadas pela ONG Safernet, "o abusador pode ser qualquer pessoa, homem ou mulher, hetero ou homossexual" e, para piorar, "a maioria dos crimes relacionados à pedofilia e pornografia infantil acontecer no ambiente doméstico".
Em tempo:
segundo a ONG Safernet, os homossexuais e nordestinos são os mais atacados no Twitter.