Nós, da Security BSides São Paulo, sempre tivemos pouca (ou nenhuma) subimissão de palestras vindas de palestrantes do sexo feminino. Isso é muito frustrante, pois eu conheço excelentes profissionais do sexo feminino e acredito que elas tem igual condições de palestrar (em termos de capacidade técnica e de comunicação), tanto quanto qualquer outro palestrante masculino.
Ou seja, nós não fazemos distinção nenhuma do sexo do palestrante que nos envia alguma sugestão de conteúdo, e assim avaliamos todas as propostas de atividades (palestras, oficinas, etc) pelo seu caráter técnico. Ë claro que em algumas ocasiões já aconteceu de recusarmos palestras de profissionais do sexo feminino por acharmos que o conteúdo sugerido não era adequado ao evento - mas mesmo assim, os casos de propostas recebidas, aceitas ou rejeitadas foram muito raros pela simples falta de ofertas de conteúdo.
A Marina, que trabalha na organização do Roadsec,
escreveu um texto interessante no Facebook, aonde ela comenta que
"Eventos de tecnologia costumam ser ambientes hostis com mulheres (na verdade quase todo evento costuma ser)" e destaca que, mesmo fazendo esforço para atrair mulheres para os eventos, muitas delas não enviam propostas de palestras porque
"o mundo da tecnologia como um todo não é muito agradável quando uma mulher tem um microfone e a liberdade de dizer aquilo que quiser."
E ela completa:
"Eu sei muito bem disso, já não foi uma só vez que escutei que devo 'controlar minha boca e minhas maneiras, agir como menina'."
Nós, da BSidesSP, já discutimos internamente algumas idéias de como atrair palestrantes mulheres, mas ainda não chegamos a uma conclusão de qual seria o modelo ideal. Algumas idéias que pensamos para atrair mulheres e fazê-las se sentir confortáveis e seguras para apresentar em um ambiente não hostil foram as seguintes:
- Criar uma trilha específica na programação para palestrantes mulheres - assim, todo mundo que for nessa trilha sabe que lá vai encontrar palestrantes do sexofeminino. Talvez isso atraia mais público feminino também, aumentando assim a simpatia entre a platéia e a palestrante. Talvez isso iniba eventuais comportamentos sexistas por parte de participantes da platéia;
- Limitar o acesso apenas de mulheres as palestras oferecidas por mulheres - certamente isso tornaria o ambiente mais confortável para as mulheres, mas eu receio que esta segregação só aumentaria o problema, em vez de resolvê-lo, pois não tenho certeza que essa segregação em feudos torne todo o ambiente do evento mais amigável. Eu receio que forçar essa separação por sexos pode trazer mais reações negativas do que positivas;
- Oferecer trilhas de palestras de nível básico pode atrair mais palestrantes do sexo feminino. Como poucas mulheres palestram, a maioria delas tem pouca ou nenhuma experiência de falar em público. Oferecer uma trilha de atividades de nível básico pode ser mais atraente para palestrantes com pouca experiência (de ambos os sexos, a propósito!)
- Sempre convidar mulheres para mesas de debate - essa talvez seja a solução mais fácil de ser adotada e de atrair a participação feminina. Em uma mesa de debates formada por vários participantes, não há dificuldade nenhuma em incluir partici[pantes de ambos os sexos. Como a conversa e as discussões são diluídas entre os participantes, eu acredito que dimunuimos o risco de pessoas da platéia direcionarem comentários negativos a participante mulher.
Enfim, nós ainda estamos conversando sobre como ajudar as profissionais de TI a ter um ambiente agradável dentro de um evento de tecnologia, e qualquer idéiaou sugestão é bem-vinda. Isso não é algo fácil pois um simples comentário inadequado de uma única pessoa pode levar por água abaixo meses de trabalho para promover a igualdade e respeito entre os sexos. Além do mais, é muito difícil para um homem entender todos os problemas de segregação, preconceito e sexismo que as mulheres sofrem diariamente - e é igualmente difícil para um homem encontrar uma solução para isso.
O fato é que todos nós nos beneficiamos de um ambiente de trabalho diversificado e equalitário.