Desde que o Ministro da Ciência e Tecnologia, o Sr. Aloizio Mercadante, anunciou no FISL (Fórum Internacional do Software Livre) a idéia de chamar "hackers" para ajudar o seu ministério em projetos de transparência de dados e na modernização e na segurança do portal do ministério, muito já foi dito, especulado e polemizado, mas o fato é que a iniciativa tem prosperado e amadurecido, e agora é possível ter uma visão melhor de quais seriam as intenções do Mercadante.
Recentemente, no dia 05 de setembro, o ministro, alguns políticos e técnicos do ministério fizeram uma reunião na Casa de Cultura Digital para discutir o projeto. O fato é que o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação está preparando uma plataforma de dados abertos e quer a ajuda das comunidades de software livre, cultura livre e de transparência pública em seu desenvolvimento, incluindo cyber ativistas e programadores.
O projeto atende pelo nome de Plataforma Aquarius, tendo como objetivo permitir o acompanhamento público e transparente dos gastos do ministério e de suas ações. O portal terá integração com outros sistemas, como o IBGE e o Finep, o Portal da Transparência, com o governo federal, que é coordenado pela Controladoria-Geral da União (CGU) e os dados serão alimentados por todos os ministérios.
O Ministério pretende desenvolver o sistema integralmente em software livre, o que, além da redução de custos, permitiria sua adaptação pela instituição usuária. Além disso, o projeto é baseado principalmente em usar o conceito de dados abertos (open data). A partir, daí, surgiu toda a história de convidar os "hackers" a fazerem parte da iniciativa, através de algum tipo de parceria com a comunidade "hacker". No encontro, o ministro fez questão de deixar claro seu entendimento sobre o termo hacker e que ele está se referindo aos chamados "hackers éticos", não os crackers (ou cyber criminosos).
Segundo o relato do Alberto Fabiano, um dos fundadores do Garoa Hacker Clube que participou do encontro, durante uma pré-reunião de grupo reduzido o Mercadante, o ministro começou a contar causos do Gilberto Gil, que foi responsável por criar o entendimento e a simpatia que ele tem pelos chamados "hackers". O Gilberto Gil foi autor de uma clássica afirmação “Sou hacker. Sou um ministro hacker. Sou um cantor hacker.” Este posicionamento dele acabou servindo como uma semente quanto a este assunto dentro do governo.
Até aí tudo bem, mas agora começa a ficar bem claro para mim quem é o "hacker" que o ministro tanto fala e tanto deseja. Pelos vários relatos das conversas deste encontro, fica bem claro para mim que a principal preocupação do ministro é obter ajuda da comunidade de software livre. Praticamente tudo do que se falou até agora foi sobre uso de software livre e dados abertos, mas pouco ou quase nada foi dito sobre segurança. O "hacker" que o ministro quer é o desenvolvedor de software livre, que se interesse em usar esta tecnologia para promover a transparência dos governos, uma das ações típicas do cyber ativismo consciente.
A questão aqui não é segurança.
Como profissional de segurança, eu tenho a tendência de associar automaticamente o termo "hacker" ao especialista em segurança (tanto o que faz o bem quanto o mal - este último, também chamado de cracker). Mas esta história toda do Mercadante nos faz lembrar que o "hacker" é muito mais do que isso. É o amante de tecnologia. É o programador, é o especialista em hardware, o engenheiro eletrônico, é o apaixonado por software livre, é o geek que desenvolve software proprietário, e é o artista que usa a tecnologia para criar.
Obrigado, Mercadante, por me lembrar de algo que aprendi há menos de um ano atrás, quando comecei a participar de um hackerspace de verdade. :)
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Um comentário:
Parabéns pelo post Anchises! Aliás, vale a pena comentar que o ministro também ressaltou a questão da segurança, porém o foco é realmente o desenvolvimento desta plataforma por um grupo altamente especializado em arquitetura open data, open access e software livre, que é parte do foco dele com este projeto.
Sobre o Gilberto Gil, sinceramente achei mais do que compreensível o respeito que o Mercadante tem por ele e esta *semente* que o ministro hacker deixou no governo e na sociedade foi extremamente importante por vários aspectos.
[]s
AL.
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