O vídeo foi publicado no ano passado e é bem didático, descrevendo como várias gerações enxergam o trabalho e como isso afeta a sociedade. Mas eu devo confessar que não sou muito empolgado com esta história de classificar e rotular as pessoas desta forma, algo que tem sido repetido ad infinitum no mundo empresarial, na mídia e no dia-a-dia. Explico:
- Primeiro, qualquer generalização que tente descrever o ser humano tende ao erro. Pelo simples motivo de que o ser humano é complexo e não segue uma receita de bolo. Você pode pegar duas pessoas nascidas no mesmo dia, que tiveram o mesmo tipo de educação e estilo de vida similares, e ambos certamente serão pessoas totalmente diferentes entre si. Um pode ser um médico e o outro, um mecânico. Um pode ser ateu e o outro cristão. Um pode ser viciado na Internet e ou outro ser totalmente desligado. Um tem perfil no Facebook e o outro odeia redes sociais. Um pode comer primeiro o recheio da bolacha recheada e o outro come a bolacha de uma vez só. Outro pode comer pizza com catchup e o outro mistura macarrão com feijão. E por aí vai.
- Igualmente, qualquer análise estatística representa a média do que está sendo observado e exclui os extremos. Se você colocar um pé numa bacia com gelo e outro numa bacia com água quente, na média você pode estar na temperatura ambiente, mas ainda assim não será nada agradável.
- No caso específico da rotulação das gerações, ela é totalmente baseada no ponto-de-vista americano, da cultura, da economia e da sociedade americana. Começa pela tal "geração baby-boomers": este foi um fenômeno predominante nos EUA, e não no resto do mundo. Enquanto os "baby-boomers" estavam revolucionando a pesquisa e a economia americana, nós da América do Sul estávamos vivendo sob ditaturas, os Japoneses e Europeus estavam se reconstruindo no pós-guerra (e alguns deles também vivendo em ditaturas), os Russos estavam preocupados com a Guerra Fria, os Chineses estavam vivendo o início do comunismo, e por aí vai. Mesmo hoje em dia, não dá para considerar que o mundo inteiro é igual: para começo de conversa, a penetração da Internet é totalmente diferente nos países desenvolvidos e nos países sub-desenvolvidos. Enquanto a economia dos EUA e da Europa ainda está em crise (e, em alguns países Europeus, está quase em frangalhos), vários países estão estáveis e os países do BRIC (Brasil, Rússia, India e China) estão relativamente bem. Isso afeta o mercado de trabalho e, portanto, o empreendorismo e a fidelidade dos empregados a sua empresa atual.
Por isso, vale a pena ver como o vídeo descreve as gerações existentes hoje em dia:
- Baby Boomers (anos 60 e 70)
- O espaço de trabalho limitava-se ao escritório: a jornada de trabalho tinha hora certa para começar e acabar (até hoje minha mãe não entende porque eu não tiro 30 dias de férias todo ano...) e não se levava trabalho para casa
- As responsabilidades eram individuais e específicas
- Vários anos de experiência levavam ao crescimento dentro da empresa
- As empresas tinham estruturas hierárquicas
- O trabalho era sinônimo de disciplina
- Sucesso era sinônimo de estabilidade
- A recompensa pelo trabalho vinha com o tempo (isto é, com a aposentadoria!)
- Geração X
- O horário de trabalho foi extendido para o "happy hour" e surge o culto ao "workaholic", aquele viciado em trabalho que fica no escritório até tarde
- Trabalhadores competitivos e auto-confiantes, seguindo uma lógica mais individualista
- Busca pelo rápido crescimento profissional
- Crescimento na empresa baseado na meritocracia
- Foco em diplomas, MBAs, PHDs para se destacar, além da aparência (argh, quem mandou usar terno em um país quente como o Brasil?)
- O sucesso significava ser jovem e rico (hum, vai me dizer que isso não é um valor forte da cultura americana e que a economia dos EUA é uma das poucas que permitiam e ainda permitem isso?)
- A recompensa pelo trabalho surge imediatamente.
- Geração Y (ou Millenials):
- O trabalho está sempre presente e totalmente móvel: destaque para o home-office e espaços compatilhados, aonde cada um pode fazer seu próprio horário
- O prazer determina a realização profissional
- Sucesso é sinônimo de prazer e paixão pelo que faz
- Boom do empreendorismo com o apoio da força coletiva (com destaque ao crowdfunding)
- Relacionamentos no trabalho baseados na velocidade do dia-a-dia: foco em projetos de curto-prazo e feedback constante
- A hierarquia foi substituída pela troca de conhecimentos
- Valorização de formas mais informais de educação (hum, por isso que o mercado valoriza tanto as Certificações?): foco na flexibilidade e aprender novas habilidades
Baseado em minha experiência pessoal e no que eu percebo dos meus amigos e colegas de trabalho, na verdade estas definições descrevem muito mais o mercado de trabalho como um todo do que uma geração específica. Ou seja, eu vejo muito mais sentido em dizer que, por exemplo, "Geração X" descreve a forma de trabalho nos anos 80 e 90 e que "Geração Y" descreve a dinâmica das empresas atuais, independente da idade das pessoas. O mercado de trabalho, a economia e os profissionais estão seguindo um ciclo alinhado de mudanças, de acordo também com a evolução natural da sociedade, das tecnologias e dos relacionamentos pessoais e profissionais.
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