Esta foi a minha primeira vez no evento, aproveitando que estava de férias na Europa - afinal, não é sempre que temos a oportunidade de ir até a Europa justamente na semana entre o Natal e o Ano Novo, e ainda por cima enfrentando o inverno Europeu. Eu ouvi várias críticas pela mudança do local do evento, que nas edições anteriores parece ter sido um espaço relativamente pequeno em Berlin, a capital da Alemanha e uma cidade com milhares de atrações turísticas e "notúrnicas".
O CCC é um evento gigantesco, com algumas milhares de pessoas, que não deixa nada a dever para a Defcon, americana, e que portanto exige uma infra-estrutura de grande porte. E, na minha humilde opinião, o centro de convenções de Hamburgo foi um lugar excelente que atendeu muito bem a demanda do congresso: espaçoso, com um auditório enorme que recebeu a track principal, e mais quatro andares (além do térreo) que hospedaram dezenas de atividades: duas outras salas de palestras, sala de workshops, uma enorme vila de hardware hacking, e incontáveis espaços para as mais diversas atividades (incluindo, claro, uma área de lockpicking). Em uma sala de palestras teve Lightning Talks em alguns horários, aonde interessados se inscreviam durante o evento para apresentar uma palestra curta, de 5 ou 15 minutos de duração, no máximo.
As palestras são sobre os temas com os quais estamos acostumados: novas pesquisas de segurança, hacking em geral, hacktivismo, etc. Mas, ao meu ver, o CCC tem algumas características que o tornam bem diferente dos eventos americanos e brasileiros:
- Antes de mais nada, é um congresso para quem fala alemão. Ter ao menos o domínio do inglês é fundamental para sobreviver por lá, mas a maioria das palestras são na língua de Goethe. O evento teve 3 tracks de palestras, e em vários momentos somente uma delas era em inglês, o que dificulta muito o aproveitamento de quem não fala alemão. E não há tradução simultânea. Nos corredores e oficinas, na maioria das vezes as pessoas conversam entre si em alemão. Agora eu sei na pele como os gringos se sentem quando vem em um evento no Brasil :(
- Eu adorei o horário do evento: das 11:30 da manhã até a meia-noite. Excelente para notívagos como eu e, além do mais, pelo que eu ouvi dizer muita gente praticamente nem saia de lá.
- O evento teve 3 trilhas de palestras, mas o foco principal do pessoal é o de se socializar, e não de assistir as palestras. No CCC há dezenas de espaços para o pessoal sentar, montar grupinhos e hackearem juntos. Também há dezenas de mesas compartilhadas, sofás e vários espaços para todos se alimentarem. E dois lounges. E um canto para a galera de Lockpicking. Para comparar, a Defcon tem 5 trilhas de palestras e a Black Hat tem 9. As palestras tiveram streamming ao vivo, então era comum ver um pessoal assistindo as palestras em seus computadores, sentados nas mesas ou sofás no espaço compartilhado. Esta foi a característica que mais me chamou a atenção: o foco principal na interação entre os participantes, e não nas palestras.
- Também há um grande espírito de ajuda e voluntariado. Um evento deste porte demanda muito trabalho da organização, que conta com o apoio dos voluntários, chamados de "angels" (anjos), que ajudam em turnos. E qualquer pessoa pode se oferecer para ajudar durante o evento: basta ir no ponto central dos angels (batizado de "heaven" - céu) e se oferecer. Também há um NOC e um CERT, para atender qualquer tipo de emergência.
Resumindo, o CCC é um evento enorme e interessantíssimo, e certamente recomendo a todos irem lá pelo menos uma vez. Quem sabe neste ano (2013), em que o evento comemora sua 30a edição?
Atualização (17/01):
- O Alexandre Teixeira me disse que o streamming das palestras tinha tradução para o inglês. Eu não sabia, mas se isso for verdade, é uma baita mão na roda para acompanhar as palestras em alemão.
- Todo o material do evento já está disponível online em http://ftp.ccc.de/congress/2012/ (dica sensacional do Sandro Suffert)
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