Coincidentemente, as edições desta semana das revistas americanas Time e Wired estão com uma matéria de capa sobre o mesmo assunto: a onda de protestos que aconteceram em 2011 no mundo todo; certamente um dos fatos marcantes do ano.
As reportagens são grandes, bem escritas e se complementam. E merecem ser lidas. Em comum, ambas discutem o surgimento destes protestos, as motivações e a influência das redes sociais no surgimento e na organização destes protestos. A grande diferença é que, enquanto a revista Time focou principalmente nos protestos originados no Oriente Médio e como eles se espalharam pelo mundo a partir da Tunísia, a revista Wired discutiu principalmente nos protestos em Londres e ofereceu também uma discussão mais profunda sobre o que motiva um grupo de pessoas a se juntarem e sentirem forte o bastante para enfrentar um governo.
A revista Time dedicou a sua capa e várias páginas ao que ela elegeu como a personalidade mais marcante do ano de 2011: os manifestantes ("the protester", em inglês). Embora normalmente a revista indique pessoas específicas como a personalidade mais influente em um determinado ano (a lista começa em 1927), desta vez eles decidiram eleger a coletividade de pessoas que se uniram ao redor do mundo para protestar contra governos corruptos, contra ditaduras e contra a crise econômica mundial. A reportagem discutiu detalhadamente como os protestos populares surgiram na Tunísia em Janeiro de 2011, se espalharam em seguida para o Egito e depois para o mundo, entrando na Europa pela Espanha (e depois Grécia) e chegando aos Estados Unidos em Setembro, na forma dos movimentos de ocupação iniciados pelo Occupy Wall Street.
A reportagem da revista Wired, por outro lado, focou a discussão sobre os protestos de 2011 principalmente nos distúrbios (do inglês, riot) que ocorreram em várias cidades da Inglaterra em Agosto de 2011. A Wired comparou os protestos que aconteceram em 2011 com os famosos flash mobs (quando um grupo combina pela Internet de realizar uma performance publicamente e coloca o vídeo no YouTube), mas em uma versão mais violenta.
A revista se baseia nos estudos do pesquisador inglês Clifford Stott que descreve dois fatores principais para controlar uma multidão violenta: o sentimento de legitimidade e de poder. O primeiro fator, legitimidade, surge na medida em que a multidão sente que a polícia e toda a ordem social ainda merecem ser obedecidas. O segundo fator é a sensação de poder: a percepção dentro de uma multidão de que tem a capacidade de fazer o que quer, a ponto de sair para as ruas sem medo de punição.
A Wired também destaca que atualmente a tecnologia (de comunicação e as redes sociais) permite que um grupo de pessoas afins se reunam com uma velocidade sem precedentes e em grande escala. Uma mensagem pode chegar a 50, ou 500, ou até 5.000 pessoas com o toque de um botão. Apenas uma pequena fração desta audiência é capaz de se multiplicar rapidamente e causar a desordem.
Além do mais,a reportagem considera que os protestos foram consequência do surgimento de um novo fenômeno chamado "mega-undergrounds": grupos de pessoas com interesse em comum mas originalmente desconectadas para as quais a ascensão do Facebook e do Twitter revelou a sua dimensão real. Esta nova forma de conexão entre eles tem feito com que esse grupo originalmente insignificante passe a ser reconhecido pela cultura dominante. Para estes grupos a chance repentina de se aglomerar em uma multidão faz com que eles saiam das sombras e possam influenciar a sociedade.
Esta onda de protestos em 2011 começou quase que sem querer e conquistou o mundo. O Twitter, o Facebook e os meios de comunicação instantânea via celular permitiu que grupos originalmente dispersos se falassem e se coordenassem, defendendo interesses legítimos e tentando influenciar os seus governos.
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