fevereiro 29, 2012

[Cyber Cultura] Hashtags não derrubam governos #nãomesmo!

Após a mesa redonda sobre Cyberativismo político na Campus Party, eu dei uma olhada no blog do Alberto Azevedo e cheguei neste excelente texto publicado pelo Tiago Dória, chamado "Hashtags não derrubam governos". Embora escrito há um ano atrás, o texto vale a leitura pois faz uma análise muito interessante do fenômeno do cyber ativismo, da real capacidade de mobilização política através das redes sociais e de como os governos estão lidando com isso.

O Tiago Doria baseia sua análise no livro The Net Delusion e os dois primeiros parágrafos do seu post resumem muito bem a sua opinião: "Acreditar que a internet, por si só, fortalece a democracia é uma ideia tão simplória quanto achar que a queda de um governo autoritário sempre dá lugar a um democrático. E mais, ao contrário do consenso geral, governos totalitários perceberam que o mundo mudou. (...) Hoje, usam formas bem mais sutis de censurar as vozes dissidentes."

Ele defende que, embora o governo Americano tenha passado a encarar a Internet como uma ferramenta capaz de influenciar governos (pois a web permitiria divulgar informações e fomentar a discussão em países sob regimes não muito amigáveis e, consequentemente, conscientizar essa população), os governos autoritários também já aprenderam como utilizar a Internet para fortalecer o seu regime e manter o status-quo.

O artigo todo merece ser lido, mas gostaria de destacar alguns parágrafos e idéias de seu texto, em especial:
  • "(...) quando a censura à rede se torna impraticável ou politicamente indefensável, governos autoritários passam a usá-la para propaganda ou, em casos mais extremos, como uma ferramenta de monitoramento da população"
  • "Do mesmo modo, censurar blogs está virando coisa do passado na China e no Irã. É mais negócio criar um exército de blogueiros pró-governo e contratar pessoas para entupir blogs e redes de microblogs com perfis falsos e comentários a favor do governo" (o que é chamado de "50 Cent Party")
  • "(...) o objetivo [dos governos autoritários] é sufocar a oposição na web por meio de uma avalanche de conteúdo. Combater conteúdo com conteúdo e não com escassez de informações."
  • Os governos também perceberam que outras formas simples de sufocar as vozes dissidentes é usar a web para espalhar boatos e para monitorar e identificar os dissidentes em redes sociais.
  • "(...) as plataformas de redes sociais são uma faca de dois gumes para quem é dissidente. Por um lado, dá mais visibilidade internacional. Mas, por outro, deixa mais vulnerável quem as utiliza."
  • "Quanto mais Facebook, Twitter e Google forem vistos como ferramentas da política externa americana, maior o risco de serem censurados [e monitorados] em países com governos ditatoriais."
  • "(...) muitas vezes, o ativismo facilitado pelas redes sociais faz muito barulho, mas resulta em quase nada. (...) muitas vezes esse tipo de ciberativismo não apresenta resultados, visto que se preocupa muito com a mobilização (juntar seguidores no Twitter e amigos no Facebook) e pouco com a ação (depois de conseguir 10 mil seguidores e fãs na página do Facebook, o que vai fazer? Enviar spam com conteúdo político para todo mundo?)."
  • "De acordo com o pesquisador [Evgeny Morozov], revoluções exigem 3 coisas – disciplina, líderes e comprometimento. E isso você não encontra nas redes sociais que nivelam todo mundo na horizontal."
  • "(...) governos autoritários morrem por causa de problemas políticos e econômicos."


Além de ler o artigo do Tiago Doria, eu recomendo a todos os interessados nesse assunto que vejam abaixo o vídeo da mesa redonda sobre Cyberativismo político que eu tive a feliz oportunidade de participar na Campus Party.

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