outubro 26, 2013

[Segurança] Governos pós-Snowden

O Sandro Suffert publicou recentemente mais um excelente post em seu blog sobre o "Espionagem contra o Brasil e o Marco Civil no Forno - Brasil pós Snowden", ou seja, sobre a reação da presidenta Dilma frente as denúncias de espionagem do governo americano, realizadas pelo Edward Snowden, que atingiu o governo brasileiro (incluindo comunicações da Presidenta do Brasil e informações do Ministério das Minas e Energia), além da Petrobrás.

A Dilma já fez biquinho, já cancelou uma visita ao Obama e fez discurso cheio de mimimi na ONU. Como se nenhum governo nunca tivesse espionado ninguém - nem o governo Brasileiro.

Nessa semana a chapa esquentou do lado do Obama, com novas denúncias de espionagem a governantes, mas dessa vez com gente grande: a chanceler do governo alemão Angela Merkel e o presidente da França, François Hollande. Agora não é mais espionagem contra presidentes de países de terceiro mundo, como México e Brasil... e, embora com a Alemanha e a França faça sentido usar o argumento de que "todos os países se espionam mutuamente", a crise diplomática e o mal estar está instalado.

Mas, se é verdade que todos os países se espionam desde que o mundo é mundo, porque tanta polêmica?

Na minha opinião, o problema é a amplitude e o grande grau de invasão da espionagem americana:
  • A partir do momento em que a NSA espiona todas as comunicações telefônicas e via Internet em todo o mundo, ela espiona tudo o que fazemos, indiscriminadamente. Afinal, o mundo está conectado e os celulares e a Internet fazem parte do dia-a-dia de todos nós. E isto é assustador.
  • Para piorar, a NSA construiu uma enorme estrutura de espionagem, através de acordos com grandes sites e empresas de telecomunicações, backdoors instalados por empresas de tecnologia e, se necessário, captura de comunicação em cabos submarinos ou invasão de computadores. Com isto, o governo americano tme uma capacidade de espionagem inigualável, que nenhum país consegue se proteger nem ao menos chegar perto.
  • Para piorar ainda mais, hoje em dia todos os países são altamente dependentes de tecnologia e serviços oferecidos por empresas americanas. A própria Internet é controlada pela ICANN, que é subordinada ao Departamento de Comércio do governo americano.


E aqui no Brasil, quais serão as reações concretas do governo Brasileiro? Por hora, ouvimos notícias sobre diversas iniciativas governamentais desencontadas e, a grande maioria, com pouca chance de resolver algo, tais como:
  • Como criar um serviço de e-mail nacional através dos Correios - como se já não possuíssemos diversos provedores locais, como UOL e Mandic, inclusive provedores que oferecem e-mail gratuito
  • Obrigar os sites externos que contenham dados de brasileiros (como o Facebook e o Google) a manter servidores no Brasil para armazenar os dados dos brasileiros, como se isso fosse evitar algum tipo de espionagem por parte destas empresas (sem falar que vai facilitar a espionagem do próprio governo Brasileiro)
  • Lançar um cabo submarino entre o Brasil e a Europa para evitar espionagem americana, como se os EUA não tivessem submarinos e não soubessem colocar sniffers neles para interceptar a comunicação
  • Forçar o Serpro a usar criptografia nos e-mails utilizados por órgãos governamentais, que seria útil, mas é impossível eviar que autoridades, membros do governo e funcaionários públicos em geral usem o e-mail pessoal. Mesmo assim, qualquer comunicação não criptografada com entidades externas continuará sendo interceprada.

O meu maior medo é que o governo possa desfigurar o Marco Civil, sob pretexto de usar ele como uma forma de diminuir o risco de espionagem americana, e assim acabe aprovando às pressas um Frankstein para torná-lo uma peça que facilite a espionagem do próprio governo brasileiro.

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