Nesta curta entrevista com a Saskia Sassen, mestre em Ciências Sociais e PhD em Economia, especializada em globalização, migração urbana e tecnologias de comunicação por parte dos governos, ela faz uma rápida e objetiva análise do poder de vigilância dos governos sobre os cidadãos, que é a situação que vivenciamos hoje em dia através da espionagem e vigilância desmedida através dos meios de comunicação.
De acordo com Saskia, há três aspectos principais que merecem ser notados sobre a vigilância governamental:
- Primeiramente, a grande infra-estrutura que foi construída para montar essa máquina de vigilância, e que nós não notamos. Isto deveria ser algo facilmente visível: nos EUA, ela cita existirem cerca de 10 mil edifícios espalhados no país desde 2010 para operacionalizar esse gigantesco aparato de vigilância contínua. Mas nós somos tão bombardeados de informações o tempo todo que não conseguimos perceber isso. Minha conclusão: fomos mantidos alienados, manipulados e enganados para não perceber e não dar atenção para isso, pelo menos não até surgir o escândalo do Snowden e da imprensa internacional ter dado destaque para as suas revelações. É interessante ver que, no início de 2012, a Wired fez uma reportagem de capa sobre o data-center gigantesco da NSA e que denunciava o esquema de espionagem deles, mas esta reportagem não causou nem um milésimo da comoção que foi gerada pelos relatos do Snowden;
- A lógica desse aparato de vigilância está errada: para capturar 2 ou 3 criminosos/terroristas por ano, o governo assume que todo mundo é suspeito! O pressuposto básico dos governos para investir nestes mecanismos de vigilância é de que todos nós, cidadãos, somos suspeitos. Por causa de poucos grupos perigosos, para proteger o país todos os que moram nesse país são vigiados e os dados de todos são coletados 24 horas por dia, todos os dias do ano: nossos e-mails, nossa comunicação pessoal, etc. Isso, para ela, é uma grande ruptura no posicionamento e lógica tradicional da atuação do estado, considerando o modelo de atuação estabelecido pela revolução francesa e pela tradição Americana. Meu comentário: de fato, a NSA assumiu a postura que, para "encontrar uma agulha no palheiro, ela quer ter uma cópia de todo o palheiro" (isso já foi dito pelo general Keith Alexsander, chefe da NSA). Ou seja, a estratégia de vigilância da NSA foi construída sobre a idéia de que, hoje em dia, é mais fácil coletar tudo primeiro e buscar por informações específicas depois, do que vigiar susteitos caso-a-caso. Dessa forma, todos são vigiados, todos tem seus dados copiados (como se fôssemos todos suspeitos), e depois são feitas as investigações e buscas necessárias nessa massa gigantesca de dados;
- Será que estes mecanismos realmente funcionam? Não há provas de que este aparato de vigilância funcione para achar terroristas. Para Saskia, nem o povo nem o governo se beneficiam com esta prática, mas sim as grandes empresas de tecnologia, que fornecem os equipamentos para essa gigantesca infra-estrutura de vigilância.
O pior de tudo é pensar que vários outros governos, órgãos de inteligência e forças policiais podem começar a seguir essa estratégia Americana, de interceptar e monitorar as comunicações de todo mundo através da Internet.
Nenhum comentário:
Postar um comentário