Então vamos falar primeiro sobre o lado bom de trabalhar na área: altos salários e vagas a vontade. Ou, como disse o G1: "salário de R$ 38 mil, mas não encontra profissionais".
A área de cibersegurança explodiu nos últimos anos - fruto da grande digitalização das empresas, e da sociedade como um todo, e do crescimento do cibercrime (desde fraudes contra pessoas até mesmo os ransomwares que assolam grandes organizações globais). Qualquer empresa, de qualquer setor, tem a necessidade de possuir profissionais de cibersegurança - dependendo da área de atuação e do risco, essa necessidade pode ser maior ou menor. Os segmentos que lideram as contratações em Segurança são o mercado financeiro; telecomunicações; e-commerce (varejo) e o mercado de saúde / farmacêutico.
Mas o crescimento da área não foi acompanhada pelo aumento de profissionais, e a cada ano essa demanda cresce e o problema fica mais crítico. Segundo levantamento do Google for Startups citado pela reportagem do G1, a área apresenta o maior déficit global de talentos. Há anos a ISC2 aponta para essa falta de profissionais em seus estudos sobre o mercado de segurança.
Em poucas palavras: há mais vagas do que profissionais disponíveis para preenchê-las. Eu chamo isso de "taxa de desemprego zero".
O trabalho em segurança da informação e cibersegurança é bem especializado, o que torna a quantidade de profissionais disponíveis mais escassa e dificulta a entrada de novos profissionais. Com isso, existe uma dificuldade muito grande em encontrar e reter talentos, e a rotatividade de quem já trabalha no setor é alta. A alta nos salários acompanha essa crise de talentos.
A reportagem do G1 aponta quais as principais faixas salariais dos profissionais de segurança, que são valores bem realistas (mas é uma média - tem muita gente que ganha abaixo e um punhado que ganha muito acima desses valores):
- Analista de segurança da informação júnior: entre R$ 4 mil e R$ 8 mil por mês
- Analista de Governança, risco e compliance (GRC): entre R$ 11.850 e R$ 18.150
- Especialista de Governança, risco e compliance (GRC): entre R$ 17.750 e R$ 22.600
- Pentester: entre R$ 13.400 e R$ 18.400
- Analista de DevSecOps: entre R$ 14.650 e R$ 24.500
- Coordenador de cibersegurança: entre R$ 17.350 e R$ 23.750
- Gerente de cibersegurança: entre R$ 23.100 e R$ 38.700
A reportagem não cita isso, mas o salário de um CISO pode chegar e facilmente ultrapassar a casa dos R$ 50 mil mensais.
Mas nem tudo são flores, num momento que falamos muito sobre stress e burnout dos profissionais de segurança.
A falta de profissionais acaba ajudando a piorar a situação de todos. Os funcionários existentes ficam sobrecarregados, pois seus times acabam sendo menores do que deveriam pela dificuldade de contratar novos recursos ou repor a saída de um colega. Como destaca a reportagem do G1, a escassez de talentos tem estimulado empresas a promover ou contratar trabalhadores menos qualificados para cargos maiores mesmo sem a experiência necessária para um cargo alto. Apesar disso provocar um rápido crescimento na carreira e no salário, o profissional passa a ser cobrado por entregas além de sua capacidade, sem prazos e recursos necessários, o que aumenta seu stress.
A reportagem do G1, publicada em 18/08, denuncia o stress e burnout presente no dia-a-dia dos profissionais de segurança. A reportagem aponta quais seriam os principais motivadores para esse cenário de alta pressão sofrido pelos profissionais da área:
- prazos extremamente curtos para projetos;
- acúmulo de demandas e funções;
- responsabilidade extrema em garantir a segurança de empresas e dados sensíveis protegidos;
- promoção informal de trabalhadores iniciantes a cargos seniores;
- lideranças tóxicas.
Além disso, como a área é bem pequena, muitos profissionais têm medo de expor seus problemas uma vez que a saúde mental é um assunto considerado tabu, e pouco discutido. Os gestores também sofrem muita pressão e não estão livres do burnout. Segundo um estudo do Gartner citado pelo G1, até 2025 espera-se que 25% dos líderes de cibersegurança irão mudar de emprego devido ao estresse no local de trabalho.
Diversos estudos e estatísticas mostram que o trabalho está estressante e o burnout ronda os profissionais de segurança. Segundo um estudo da ISSA, os profissionais da área consideram que o trabalho está ficando mais difícil e desafiador com o passar do tempo.
Para saber mais:
- Reportagem bem extensa e detalhada: Segurança da informação tem salário de R$ 38 mil, mas não encontra profissionais; veja como entrar
- 'Um desastre pelo lado emocional': profissionais de segurança da informação denunciam casos de burnout e depressão na área
- Brasil terá déficit de 530 mil profissionais de tecnologia até 2025, mostra estudo do Google
- ISC2 Cybersecurity Workforce Study
- Relacionado: New Research from TechTarget’s Enterprise Strategy Group and the ISSA Reveals Continuous Struggles within Cybersecurity Professional Workforce
- Artigo interessante: IBM: Ransomware attacks take psychological toll on incident responders
- Aqui no blog:
Nenhum comentário:
Postar um comentário