Hoje, 13/10, é o Ada Lovelace Day, uma data especial para celebrarmos a participação das mulheres nas áreas de exatas, incluindo ciências, tecnologia, engenharia e matemática (que os americanos chamam de STEM - sigla para Science, Technology, Engineering and Mathematics).
OBS: Em homenagem a essa data, esse é o primeiro de uma série de artigos que vou publicar todos os dias dessa semana, falando sobre diversidade e a participação das mulheres em tecnologia.
Embora as mulheres estejam ganhando mais espaço e mais visibilidade no mercado de tecnologia, infelizmente elas ainda são minoria e estão em forte desvantagem. Segundo uma pesquisa com 14 mil empresas e 1 milhão da candidatos a emprego, realizado pela plataforma de recursos humanos Revelo, as mulheres ocupavam apenas 12,2% das posições na carreira de tecnologia em 2020. E a pretensão salarial das mulheres é 22% menor do que a dos homens.
Mesmo quem deseja empreender está em desvantagem! Segundo dados coletados pela Aladas, uma plataforma de mulheres empreendedoras, 43% das mulheres desistem antes de começar a empreender (entre os homens, esse número cai para 34%). Afinal, as empreendedoras têm 17% menos tempo para se dedicar ao trabalho, uma vez que se ocupam 95% mais tempo com afazeres domésticos que os homens. Além disso, mesmo sendo melhores pagadoras que os homens, menos de 10% das empresas lideradas por mulheres recebem financiamento.
Essa dificuldade tem como causa principal o fator cultural enraizado em nossa sociedade, de que ciências exatas e liderança são papéis predominantemente masculinos. Até hoje reina absoluta a visão cultural da mulher como esposa, cuidadora do lar, ou no máximo associada a profissões nas áreas de humanas ou biológicas. Desde a infância, educamos nossas crianças para que as meninas sejam donas de casa, cuidando de bonecas e ganhando um fogão de brinquedo e um kit de panelas, enquanto os meninos são educados para ser esportistas, cientistas, policiais e heróis. A consequência disso, infelizmente, é que pesa sobre as mulheres o papel secundário e de submissas na sociedade e na família - e algumas mulheres não conseguem se livrar dessa cultura machista.
Uma reportagem da CNN Business e uma do portal 6 Minutos, além desse artigo da IBLISS, sugerem algumas ações para aumentarmos a diversidade e diminuirmos as diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Com base nessas sugestões, eu resolvi me arriscar e compilar as dicas abaixo:
- É preciso conscientizar de que existe essa diferença de tratamento entre homens e mulheres, e querer mudar isso!
- Precisamos desconstruir a idéia de que a área de ciências e de tecnologia não são carreiras para mulheres;
- Homens também podem se posicionar, usar sua posição de liderança na sociedade para dar um bom exemplo, valorizando e apoiando a diversidade e a inclusão;
- Combata o preconceito com competência e trabalho de qualidade, e não deixe se abalar com isso!
- Ações no mercado de trabalho (empresas, comunidades, escolas)
- Inspirar: vamos compartilhar e divulgar os exemplos de mulheres de sucesso nas suas carreiras e no mundo empresarial;
- Criar redes de apoio e suporte as mulheres no desenvolvimento profissional;
- Desenvolver programas de mentoria sobre carreira e empreendedorismo para as mulheres;
- Nas empresas
- Ter o apoio da alta gestão para educar os funcionários e gestores sobre comunização empática, ‘vieses inconscientes’ e liderança inclusiva”;
- Construir espaços de trabalho aptos para receber as mulheres;
- Manter postura clara e consistente de apoio a diversidade e inclusão da força de trabalho;
- Mesmo que o ambiente seja predominantemente masculino, ele não precisa ser escroto. Esforce para manter um ambiente inclusivo e respeitoso, sem as famosas "piadinhas" e sem tratar os funcionários de forma diferente por causa de seu sexo, cor de pele ou qualquer outro motivo;
- Na gestão de pessoas
- Promover programas de estágio e trainees para mulheres, de preferência as mais vulneráveis;
- Assegurar a participação de mulheres em posições-chave na hora de avaliar desempenho ou promover alguém;
- Revisar benefícios para apoiar maior equidade entre os sexos, como, por exemplo, flexibilizar a licença parental para que os pais tomem parte no processo;
- Incentivar comportamentos que apoiem a diversidade;
- Viabilizar programas de saúde mental para todos, mas que olhem também para as especificidades das mulheres, já que elas têm maior índice de síndromes ansiosas e depressivas pela sobrecarga de atividades;
- Nos processos seletivos
- Buscar candidatos diversificados;
- Mensurar os processos seletivos para ter visão da diversidade ou Gap na contratação;
- Revisar as descrições das vagas para garantir o uso de linguagem inclusiva;
- Manter uma lista diversa durante o processo de seleção, garantindo haver candidatas mulheres para as etapas finais;
- Realizar análise "cega" dos candidatos, omitindo informações de gênero, idade e etnia;
- Não questionar o histórico salarial dos candidatos durante as entrevistas. A prática atual perpetua a diferença salarial entre os funcionários, uma vez que o empregador tende a pagar uma porcentagem a mais do salário anterior do candidato, em vez de oferecer um valor baseado na faixa salarial pré-estabelecida para a vaga;
- Na educação das crianças
- Incentive que a criança desenvolva a sua própria personalidade;
- Por favor, vamos fugir dos rótulos de "brinquedos de meninos" e "brinquedos de meninas";
- Prefira brinquedos educativos;
- Lembre-se que meninas também podem gostar de esportes, de ciência ou de robótica;
- Evite brinquedos que reforçam o estereótipo da "dona de casa" e mulher dedicada as tarefas domésticas;
- Ensine programação para as meninas!
A propósito, o vídeo "Mansplaining" do Porta dos Fundos fornece uma ótima oportunidade para refletir sobre como as mulheres são tratadas no trabalho.
O Ada Lovelace Day é uma ótima oportunidade de pararmos para discutir a representatividade das mulheres no mercado e a importância da diversidade.
O Ada Lovelace Day é celebrado desde 2009, sempre na segunda terça-feira de Outubro. Naquele ano foi lançado o quadrinho super divertido "As aventuras emocionantes de Lovelace e Babbage", criado pela artista Sydney Padua, que posteriormente virou um livro, publicado em 2015. Eu tenho até vergonha de dizer que somente agora eu descobri a existência desses quadrinhos maravilhosos!!! Já virei fã, e usei as imagens da Sydney para ilustrar esse post!
Os quadrinhos contam um pouco da história da Ada Lovelace e também seguem uma linha fantasiosa, com uma pegada meio steam punk, com algumas estórias dela e do Charles Babbage como se fossem heróis. A Sydney também estudou sobre a máquina analítica do Charles Babbage, e criou um vídeo explicando seu funcionamento.
A Ada Lovelace é considerada a primeira programadora da história, por ter criado em 1842 um programa para rodar na máquina de calcular projetada por Charles Babbage - que, infelizmente, nunca foi construída pois era avançada demais para a época.Para saber mais:
- Site oficial do Ada Lovelace Day: https://findingada.com
- As imagens desse post foram tiradas do site The Thrilling Adventures of Lovelace and Babbage
- Mulheres conquistam espaço no setor de tecnologia, mas desigualdade ainda impera
- Como tornar menos difícil a jornada do empreendedorismo feminino
- A mulher na Segurança da Informação
- Mulheres e TI: construindo um ambiente mais acolhedor em tecnologia
- Paper da Fortinet: Por que a diversidade de gênero em segurança cibernética é importante para a empresa
- ‘Algoritmos têm responsabilidade pela violência contra mulheres e pessoas negras’, diz pesquisadora da UCLA
- Olha que matéria legal no Mente Binária: Mulheres ganham mais espaço em TI e iniciativas buscam maior representatividade (adicionado em 13/10)
- Aqui no blog:
- Posts sobre o Ada Lovelace Day em 2012, 2015 e 2019
- Grandes mulheres do mundo da tecnologia
- Mulheres em tecnologia
- Cadê as mulheres em TI ?
Nenhum comentário:
Postar um comentário